Um brinde...
Aos loucos, aos livres, aos sós... aos voadores e aos enjaulados... um brinde aos jovens, aos espontâneos... aos tristes.
Um brinde à vida que não passa e ao tempo que foge... aos textos escritos fora de horas, sem motivo nem nexo ou gramática que os segure... aos desabafos nocturnos, às cervejas a mais, como torneira que fecha um pensamento descontente... ao cheiro a tabaco entranhado no cabelo que escorre pela almofada, numa cabeça que dorme em jeito de intervalo.
Aos gritos que damos alto na cabeça, revoltados. À angústia, à solidão, à raiva... a todos os "Porra! Porra de vida!" deitados para fora num uivo... a todos os murros na mesa e soluços nos lençóis. A todas as unhas cravadas nos pulsos e dentes nos lábios e pele arranhada... a todo o cabelo desgrenhado e choro amordaçado... A todo o desespero e a todas as gaiolas de vidro.
E um brinde a toda a força repentina que nos habita num solavanco... a toda a música louca que ensurdece o pensamento, entre capas pretas com histórias de vida, e cinza no chão. A todos os beijos que não esperamos e aparecem de repente, a todas as fugidas sem pensar... a todos os "Vamos embora, amanhã logo se vê."... a todos os abraços em que trememos para não deixar cair as lágrimas.
A esta "Porra! Porra de vida!" enfim... às esperanças dissipadas e a todos os estalos na cara... e aos que ficam e abraçam, vêm, voltam, permanecem... aos que não julgam... aos que estão lá, realmente...
Aos directos, aos verdadeiros, à família por escolha. Aos que agarram e fogem ao nosso lado e riem alto e cantam na rua...
Aos que fazem valer a pena... aos que fazem esta porra ainda se chamar VIDA, um brinde, À NOSSA!