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INÊS MARTO

INÊS MARTO

LIVROS À VENDA:

🥀 Dia 1 depois de te esquecer:

 

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O tempo está tão perdido quanto o meu batimento cardíaco a ecoar no vazio das costelas, não resto eu suficiente para preencher o corpo que habito.
Perdura o contorno dos teus lábios no interior das lembranças sinuosas que deixaste.
Pergunto ao silêncio como derramar a tua ausência para fora da pele, responde-me na cadência lenta da dor cada letra do teu nome.
Pudessem as lágrimas ser oferendas, talvez matasse por fim a sede à Deusa dos masoquistas.
Quantas vezes renasceste, para limpar das mãos etéreas as manchas das flores que sangrei esmagadas contra o peito da Medusa que enfrentei?
Cravas a própria faca, empunhas o espelho, e no final és coroada magnânima estátua do sacrifício mais belo.
Quiçá tivesses ficado, fosse recíproca a ruptura, quiçá se também reflectisse e te petrificasse projectada em amargura.
Não soube ser mais que amor, só que nem sempre em beleza pode alastrar a raiz.
Há que deixar que a flor siga a seiva que a reverbera.
E do meu tórax em ruínas hei-de erguer a Primavera.
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Não há fôlego que nos salve

Citação Frase Papel Kraft Instagram Post.png

 

Hoje escrevo para ti,

como não fazia há

tanto

tempo

na impossibilidade de afogar em nova esperança

o que podia ser feito de nós

Digo-te que senti

Que sinto

Sinto tanto a tua falta,

Fundem-se as tuas lágrimas nas minhas e

não há fô-

lego

que nos salve

do que de ti me ficou impresso no corpo

Não há pontos

finais

as palavras não fazem

sentido algum

ou talvez sim

talvez o sentido seja

o sonho

que é como dizer, talvez o sentido sejas

tu

ou o que de ti eu resto

Alquimia de tinta

reencontro

nesses laivos de poema

onde te abraço

sem tempo

Vem, fica, hoje não quero acordar…

Fora eu raiz

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Fora eu raiz

Para o que tenho de pássaros.

Fora eu carne e cicatriz

Para o que de mim são versos.

Terra que me albergue os lírios submersos.

Animal, instinto.

Solo, chão, primal, consciência.

Não-controlo, não-teorema, não-coerência.

Fora eu o contra-senso e a ousadia da ausência.

Buscar a minha fundura, revelação de horizonte.

Salto a fogueira e o abismo. Inspiro fundo.

Mergulho. Desfio-me o próprio mundo.

Sobrevivente coroada no tribunal do além.

Desenquadrada, ilimitada, amanhã serei liberta de tudo o que me contém.

Lamberei das minhas feridas

O sal que alada me ergueu

Eternamente aprendiz desse xadrez que sou eu.

Fio de Ariadne

Eu floresço. Não habito o sótão onde mora a tua essência.
Pudesse eu resumir-me a ávida coleccionadora de nuvens e estrelas no interminável ciclorama do tempo. Ou apenas gota de chuva debruçada ao precipício de onde sonhas. Quiçá ainda pudesse ser cinza que abandona a incandescência na morte lenta contra o muro que me mantém distante.
Mas não. Prenúncio dos Deuses, havia de nascer de coração kamikaze. Não, não me resumo. Não, não me limito. Não, não desenho fronteiras de onde começo e acabas.
Sim, agarro pelas minhas mãos para ti. Sim, sucumbo às tuas feridas. Sim, por detrás da barragem fechada a sete chaves dos olhos, dissolvo o eu e o tu. Sim, ser-te-ia refúgio sem nunca olhar os ponteiros.
Mas não habito o sótão onde mora a tua essência. Eu floresço. Eu grito de mim aos céus. Dissolução, espada erguida na suplantaçāo, permeável ânsia de encaixe, simbiótica transcendência.
Passo a passo. Sem tempo, sem espaço. Pudesse resumir-me à esperança que enlaço. Mão na mão, transparente. Vulcão de sonhos de gente. Eu sou esse pássaro holograma de sonhar, dentro da minha porta só fica quem nasceu para voar.
Não habito o sótão onde mora a tua essência. Talvez seja barco onde navegues esvaindo o cansaço das noites. Talvez que o ser casa e colo e luta te seja doce. Mas não habito o sótão onde mora a tua essência. A tua vida é lá fora.
Serei apenas estrela cadente. O ébrio regresso aos lírios do sonho, à distância de um suspiro. Renasço. Talvez te seja refrescante. Mas a tua vida é lá fora, onde os lírios secam e caem ao chão.
Desvio. Afasto. Defendo. Talvez pudesse enjaular o coração, talvez pudesse amar a conta gotas. Talvez purgasse a dor do solitário renascer para ser só estrela cadente.
Talvez pudesse, mas coração kamikaze só sabe dar saltos de fé, pensando toda a vez que talvez seja desta que a mão na mão permanece.
Então, latência. Então, anestesiado olhar pelo vidro. Então, um pé aqui, insana utopia, o outro no solitário renascimento pronto a seguir caminho.
Um limbo. A dor do desapego. Uma iconcreta estância de porta destrancada.
Dir-te-ia ainda assim que o meu poema mais bonito é o abraço que espero sempre por te dar. Mas a tua vida é lá fora. Não habito o sótão onde mora a tua essência. Resta estender no limbo o tapete, dormirei no chão da tua rua, quieta, quiçá acordes e queiras permanecer.
Se não, bordarei na minha partida sonhos a desaguar à tua porta, fio de Ariadne das minhas utopias. E lá longe onde continuo o meu caminho a passos sós, quiçá um dia nos voltemos a encontrar.

Na ausência de mim

Na ausência de mim

Afloro ecos de vazio,

Corro como um rio,

Desenho as minhas desventuras,

Percorro os meus cansaços.

 

No embalo dos fantasmas

Sou erupção latente,

Sou mais água do que gente.

 

E no caudal que deixo

Que me recordem os olhos de mistério,

Pois se a morte nada pode

Hei-de ter no fim etéreo a minha libertação

De ter nascido para a vida derradeiro teorema de intangível solução.

 

No escuro sou essa sede

De encontrar o meu lugar,

Mas se a vida não me abraça

Resta-me sulcar caminhos apenas no navegar

E despontar num sorriso, mesmo em raiz de amargura

Pois neste rio indeciso

Sustém-me a minha loucura.

À deriva do mar que sou

Submerjo no amanhecer azul onde não me resta a memória do sabor que tem a pele sempre que quero desprender-me de mim. Não sei porque terá sido sempre um mar o espelho dos meus estados-espírito, não sei porque é sempre nas falésias que me desencontro.

Nem que paisagem é esta onde a minha voz soa mais rouca, onde as ondas rasgam sinfonias no vidro das janelas e a madeira branca se descasca na salinidade, da minha pele, que não sei de onde vem e que me habita os versos.

Talvez outra parte de mim seja barco, peixe, gaivota. Talvez seja marinheiro. Talvez seja poeta, livre de pegar nos próprios passos e deixar-se deambular até onde as ondas beijam a costa, desses que ficam com estrelas por tecto a escrever noite fora.

Tenho os olhos semicerrados contra o vento. Ainda assim permaneço sentado. Não deixei rasto no areal, não sei de que se me fazem os passos. Cravo a mão na areia húmida, faço cair um punhado a conta-gotas. Orquídeas brancas tomam-me o rumo dos pensamentos. Talvez não seja nada senão ímpeto, na verdade. Ora passos perdidos, ora o secular mistério das flores, ora o silêncio de um oceano que me habita.

A noite passa, o requebrar dos búzios ecoa-me dentro do peito, talvez a prancha onde me salvo do abismo seja essa: um abrir de braços e a queda na superfície das ondas, o peito à lua, um flutuante grito de nada, deixado à deriva do mar que sou.

No silêncio onde te choro

Eis-me sentado nas colinas no meu próprio desespero.

Avisto-te. Os versos são um refúgio, ponto de fuga, casa lunar.

Na encosta rochosa onde me abandonei, observo-te e choro.

Ou antes, deixo as lágrimas cair. Não emito som. Na verdade, desvaneço-me.

O ponteiro das horas matou-se em água salgada.

E eis-me aqui. Não sei desde nem até quando.

Não tenho por hábito arrancar flores, vim deixar-me estar, perto dos juncos. Talvez assim me sinta menos só.

Este mar dos meus poemas é sempre acinzentado… talvez se tinja de mim.

A tua liberdade transborda-me o limiar da pele, faz-se em mim água corrente. O que eu escrevo, sabes ser.

Tu, pináculo dos sonhos dos poetas.

Tu, fugidio abrigo, fogo lento das auroras.

Tu, face dos meus medos acontecidos e desenlaçados.

Voz das minhas desamarras com que teces gargantilhas.

Tu, noctívaga miragem do sabor à vida inteira.

Eu, ínfimo tremeluzente.

Eu, sonhador afogado.

Eu, meu sufoco, minha sede, minhas ondas saturadas de fantasmas.

Eis-me sob a noite onde te olho.

Eu, minha ânsia, meu escuro, minha desconstrução.

Eis-me no delírio banhado das minhas próprias lágrimas.

Aqui, onde demoro os compassos da sedimentação dos astros.

Aqui, onde trespassamos pelo beijo o ruído branco dos nossos longínquos universos.

Eis-me perdido na alba (in)concretização de nós.

Dear myself: a letter of apology

Dear myself, I owe you…

I shattered the bottle on the wooden floor

My sloppy fingers couldn’t hold it anymore

Numbed away in a wine riptide

As I sit, as I fade, as I subside…

 

Dear myself, no tears are left in this slow motion…

Lost lucidity, washed emotion

My mouth has made a pact: liquid sedation,

Drowning myself, remain unfelt as a salvation

 

Dear myself, before I collapse,

I whispered all I couldn’t say into the glass

Dear myself, here’s my confession

Flooding the room, this spilled expression:

 

Dear myself, I owe you love

And a full gaze into my own abyss

And a kiss for every bullet, hit and miss

Of trying to finish you with no pitty,

Dear myself, I owe you dignity

And not just a mere plastic bag reputation,

A dysfunctional cage, lifetime incarceration.

 

Dear myself, I owe you time, I owe you space

For every dawn I stayed awake, wishing to self-erase

Dear myself, I owe you sorry, again and again

For my own hands against my throat wishing to die

For the self-hate, the self-harm, self-sabotage, self-muted-cry

 

Dear myself, I owe you understanding

I pushed you down, but you kept standing,

For all the scars I never saw as warrior spears

For all the flaws I kept hiding, unlived years

For all the times I never let myself shine through

Decades squeezing into forced normality world view

 

Dear myself, I owe you freedom and dreams came true

Dear myself I owe you gratitude, empowerment, I owe you,

Dear myself, an embracing lap to rest your head from my own violence,

And breaking free from my own ghosts, new world to breathe, new existence

A cosmic dance to fall in love like it should have been

A true restart, dear myself, reborn within.

Contrasting wolves

My body is a room full of ghosts
Its walls made of frail bones, cracked stones
Broken light rays hazing through the holes, made-up windows
Violet and green hues collide, neon existances side-by-side
Contrasting wolves fight for expression
In a crystal chamber of ressurection
Ever-changing shadows, they fill my soul
Daunting growls of fear echoe through my skull
My heart's an ever expanding bomb ready to collapse
Counting my final days by a stop-motion time-lapse
As I sit still hallucinating by the sea
The wolves, they fuse themselves psychadelically
In the dark room of dispair, their sillouettes embrace
Ether floods the air, body seizes, there's no place
Nowhere, no clocks, seizure of shattered bones and rocks
The void of materiality bursts finally
Violet and green they set me free

Sou

Sou… Tudo aquilo que sobeja à tentativa de expressão. Sou manifesto erguido em corpo, não me definam então! Pois nem eu sei das ruas por onde passo, que pedras trago comigo, onde desenho caminho, por onde ficam espalhados os nexos de tudo o que digo.Não. Não sou sóbria, nem tão pouco esse expectável romance feito poeta de café, não. Coerência descasco-a como peste adormecida, sou um pouco de Elis, um pouco de Frida. Não me prostituirei em textos de encaixe às massas ocas, da minha arte resta chama. E das minhas derrotas teço colchas, faço cama.Não me definam então! Sou o ponto vértice do que me impele o devir do dia. Um pouco Al Berto, um céu aberto inundado em maresia. Eu sou o nada, insolúvel transparência, deitada em lençóis de sangue, à mera sobrevivência. E o assumir dos passos mortos em queda certeira, e na rima que desfaço, dia-a-dia desenlaço os olhares de um mundo baço, que num trono vê cadeira, que nas asas vê prisão, que nas rodas vê caixão, luto de um coração vivo. Eu sou o sal na boca, a recusa de um cativo.Mais a barba que não tenho e o batom que não ponho, sou a bandeira do múltiplo pássaro livre do sonho, não me definam então! Nem me peçam mais que escreva a expectável biografia de discurso inspirador. Sou lado negro na pele, sou o relento da dor.Sobrevivi ao naufrágio de quem teme a solidão, eu sou o florir da força na cara da negação. E não temo mais o escuro, lambo desgostos, perduro, persisto, vagueio, perco o rumo, não existo. Renasço em abstraccionismos, dentro de mim tenho sismos, armários de imensidão. Não me cabe o ser ao mundo, eu não tenho dimensão! Não… Não me definam, então!