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INÊS MARTO

INÊS MARTO

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Nós, os loucos

Nós, os loucos, amamos porque o sentido da vida, e, consequentemente, o perdurar da mesma, depende disso. Nós, os loucos, escolhemos amores impossíveis, porque a sua intangibilidade nos impede de lhes tocar os horizontes.Porque com o impossível podemos sempre sonhar. Porque o que não chega a cá estar, não pode nunca ir embora. E molda-se melhor aos lábios o sabor da espera do que à alma centelha da perda. Porque nós, os loucos, passamos a nossa solidão com medo de ficar sozinhos. Damos voltas infinitas nas camas às quais sabemos de cor o cheiro, contamos as falhas do tecto, fechamos os olhos, despojamos o corpo, tentamos a toda a força dissipar o existir. Porque nós, os loucos, somos o desafiar constante das garantias de estarmos vivos.Nós, os loucos, fingimos morrer como quem faz crochet. Não cabemos dentro da nossa pele. Não nos servem as pálpebras aos olhos. Não nos servem as mãos aos gestos. Não nos serve o peito aos desejos. Não nos cabe o mero corpo à existência. Respiramos mais fundo como quem acha que talvez assim a vida nos saia para fora pela boca.Nós, os loucos, perdemos o tempo - somos nós o nosso tempo. Não temos espaço por não nos bastar nem o amanhã nem o ontem, e o hoje é coisa de lúcidos. Nós, os loucos, não sabemos nada do que é a vida. Nós, os loucos, somos criaturas em cantos escuros, por definição, sem que ninguém, se não os outros de nós, nos consiga definir, muito menos abraçar.Nós, os loucos, vendemos a alma às palavras e queimamos a metafísica de estar vivos em nome dos sonetos de amor que escrevemos pelas noites fora. E amamos como se fosse o amor a única âncora que existe. Nós, os loucos, não sabemos nada do que é a vida. 

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