Nós, os loucos, amamos porque o sentido da vida, e, consequentemente, o perdurar da mesma, depende disso. Nós, os loucos, escolhemos amores impossíveis, porque a sua intangibilidade nos impede de lhes tocar os horizontes.Porque com o impossível podemos sempre sonhar. Porque o que não chega a cá estar, não pode nunca ir embora. E molda-se melhor aos lábios o sabor da espera do que à alma centelha da perda. Porque nós, os loucos, passamos a nossa solidão com medo de ficar sozinhos. Damos voltas infinitas nas camas às quais sabemos de cor o cheiro, contamos as falhas do tecto, fechamos os olhos, despojamos o corpo, tentamos a toda a força dissipar o existir. Porque nós, os loucos, somos o desafiar constante das garantias de estarmos vivos.Nós, os loucos, fingimos morrer como quem faz crochet. Não cabemos dentro da nossa pele. Não nos servem as pálpebras aos olhos. Não nos servem as mãos aos gestos. Não nos serve o peito aos desejos. Não nos cabe o mero corpo à existência. Respiramos mais fundo como quem acha que talvez assim a vida nos saia para fora pela boca.Nós, os loucos, perdemos o tempo - somos nós o nosso tempo. Não temos espaço por não nos bastar nem o amanhã nem o ontem, e o hoje é coisa de lúcidos. Nós, os loucos, não sabemos nada do que é a vida. Nós, os loucos, somos criaturas em cantos escuros, por definição, sem que ninguém, se não os outros de nós, nos consiga definir, muito menos abraçar.Nós, os loucos, vendemos a alma às palavras e queimamos a metafísica de estar vivos em nome dos sonetos de amor que escrevemos pelas noites fora. E amamos como se fosse o amor a única âncora que existe. Nós, os loucos, não sabemos nada do que é a vida.
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Nota biográfica:
Inês Pereira Marto nasceu em 1995 em Coimbra. Ingressou na Licenciatura de Estudos Artísticos, Variante de Artes do Espectáculo, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cidade onde actualmente reside.
Publica online em nome próprio, desde o ano de 2010, em prosa, verso, crónicas e escrita criativa. Lança em 2017 o primeiro livro, Combustão, consistindo numa junção desses vários anos de escrita.
Para além da vertente literária, mantém também a vertente artística ligada à área do teatro, tendo já sido co-autora diversas de peças de teatro e assinando também letras de canções.
Como principais temas, literariamente, destacam-se sobretudo o amor, a morte e as questões existenciais e identitárias, tendo como maiores referências autores como Al Berto, Fernando Pessoa, Ary dos Santos e Natália Correia.
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Inês Pereira Marto nasceu em 1995 em Coimbra. Ingressou na Licenciatura de Estudos Artísticos, Variante de Artes do Espectáculo, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cidade onde actualmente reside.
Publica online em nome próprio, desde o ano de 2010, em prosa, verso, crónicas e escrita criativa. Lança em 2017 o primeiro livro, Combustão, consistindo numa junção desses vários anos de escrita.
Para além da vertente literária, mantém também a vertente artística ligada à área do teatro, tendo já sido co-autora diversas de peças de teatro e assinando também letras de canções.
Como principais temas, literariamente, destacam-se sobretudo o amor, a morte e as questões existenciais e identitárias, tendo como maiores referências autores como Al Berto, Fernando Pessoa, Ary dos Santos e Natália Correia.