No silêncio onde te choro
Eis-me sentado nas colinas no meu próprio desespero.Avisto-te. Os versos são um refúgio, ponto de fuga, casa lunar.
Na encosta rochosa onde me abandonei, observo-te e choro.
Ou antes, deixo as lágrimas cair. Não emito som. Na verdade, desvaneço-me.
O ponteiro das horas matou-se em água salgada.
E eis-me aqui. Não sei desde nem até quando.
Não tenho por hábito arrancar flores, vim deixar-me estar, perto dos juncos. Talvez assim me sinta menos só.
Este mar dos meus poemas é sempre acinzentado… talvez se tinja de mim.
A tua liberdade transborda-me o limiar da pele, faz-se em mim água corrente. O que eu escrevo, sabes ser.
Tu, pináculo dos sonhos dos poetas.
Tu, fugidio abrigo, fogo lento das auroras.
Tu, face dos meus medos acontecidos e desenlaçados.
Voz das minhas desamarras com que teces gargantilhas.
Tu, noctívaga miragem do sabor à vida inteira.
Eu, ínfimo tremeluzente.
Eu, sonhador afogado.
Eu, meu sufoco, minha sede, minhas ondas saturadas de fantasmas.
Eis-me sob a noite onde te olho.
Eu, minha ânsia, meu escuro, minha desconstrução.
Eis-me no delírio banhado das minhas próprias lágrimas.
Aqui, onde demoro os compassos da sedimentação dos astros.
Aqui, onde trespassamos pelo beijo o ruído branco dos nossos longínquos universos.
Eis-me perdido na alba (in)concretização de nós.