Fade out...
[caption id="attachment_346" align="aligncenter" width="491" caption="Resposta ao desafio vencedor do passatempo "Palavra Puxa Palavra", a palavra "regaço"."]
Espectáculo após espectáculo, aplauso após aplauso...
Abre o pano..follow spot... apaga, acende, sobe, desce, strob e muda de cor... é esta a monótona vida de uma simples luz de palco...
Acende, apaga... apaga, acende... e fecha o pano... as cadeiras abandonadas... foyer vazio, plateau também... toda a magia da cena dá lugar ao mudo e triste silêncio entre espectáculos... apenas eu... eu e o velho fosso de orquestra... eu e tantas infinitas tábuas, cheias de marcas e cicatrizes deixadas por quem dá tudo de si e mais ainda, ao público...
Adormeço lentamente ao som do ranger da velha madeira que ouço a metros de altura... recupero forças para outro dia, monótono e igual na vida desta simples luz de palco... E apaga...
Toca o bombo... soam as pancadas... é hora do espectáculo. Sinto a agitação dos bastidores, tão especial, tão mágica para eles... tão mecânica e repetida para mim... sobe o pano... E acende...
Começa a ouvir-se um leve som de piano... compassos, marcações... final do primeiro acto... e apaga...
E eis que, após tantos anos cinzentos no velho teatro, surge uma réstia de cor...
"5 minutos!" - berrava o contra-regra.
E foi aí que tudo mudou... pano fechado, no segredo de nós dois, pisaste cada tábua do palco como se de chão de cristal se tratasse... Seguravas cuidadosamente as pontas da saia, que me parecia ter algo de misterioso...
Quase me esquecia de tão absorvida que estava... E acende... começa o segundo acto...
Parecias voar... e pela primeira vez, arrisquei!
Esqueci as indicações cénicas... esqueci regras, esqueci tudo... acordou outra parte de mim cá dentro... E após tantos e tantos anos, pela primeira vez, limitei-me a sentir-te os movimentos, as respirações, cada pequeno detalhe do teu corpo... e deixei-me levar por ti, pelo teu sabor... Cabelos esvoaçavam, corpo leve, ondulando... e a saia... sempre a saia escondendo algo...
Foi então que me preencheu um arrepio, seguido de uma chama escaldante cá dentro... percorri todas as cores do espectro, iluminando cada movimento dessa tua dança de vida... Enfim, num leve serpenteado, cheio de alma, a saia revirou-se, desdobrou-se, ganhou vida e revelou o que trazias no regaço...
Pétalas de rosa... qual Raínha Santa Isabel... um milagre, sim, foste um milagre... devolveste-me a paixão... nunca o palco teve tanta vida como desde então... as velhas tábuas sentiam cada passo teu, e então, atiravas as pétalas, esvoaçando por todo o lado...
Fade out... aplausos... E acende... um grande sorriso teu, choviam flores e palmas por toda a parte...
Saíste de cena... as cadeiras vazias... despiu-se o palco... ficou acesa a Alma...
E apaga...