Beijo
Então tudo passa e se dissipa, nada mais há se não a efemeridade do momento que se anseia esculpir, feito estátua de memória, embalado no âmbar crepitante desse olhar: o mesmo, o derradeiro, o tal.
Ouvem-se apenas os compassos de um peito desenfreado, inspira-se vezes sem fim, na esperança de conservar no âmago esse algo de tão único que electrifica o ar.
Sussurram-se preces aos deuses do espaço e do tempo, para que tudo permaneça assim: no mais belo desejo, na mais doce esperança, na mais perfeita leveza de espírito, pelo que ainda há-de vir.
Entrelaçam-se as almas na mais magistral das danças dançadas a dois, fundem-se sedes aladas, segredam-se paixões caladas...a catarse, indescritível explosão... o choque, arrepio, naufrágio de sensação... deriva de sentimentos à tona num mar revolto, leve barco de papel, este coração absorto.
Encruzilhada deste tudo tão intenso e fugaz... lábios unidos num beijo, feito poema voraz.
E as mãos leves na pele, quais espelhos de magia, qual toque que embala, hipnotiza, inebria.
Vertiginoso segundo... voo, dimensão, mundo, pulsação... é o tudo no momento, o mais belo envolvimento de duas esferas de amor... fogueira, sombra, miragem, loucura, anseio...
Semi-poema prosado, dreno de um coração cheio.