Como um pássaro, voas - à chuva das gotas da vida – sem destino e sem porquê. Olhos semicerrados, firmes, pousam sobre a esperança de que a corda em que caminhas, pé ante pé, deixe um dia de ser bamba, e que tu, trapezista colorido, possas por fim cair livre e perpetuamente, rasgando as gotas dessa chuva que respiras infinitamente e que se deixa absorver… pela pele, pelas penas, pelas garras, pela alma… e que te deixa enfim húmido, pingando gotas da vida, da vida de um vencedor…Porque voas num voo cortante, rasgas as gotas, mergulhas nos sonhos, cais vertiginosamente numa espiral de emoção, mas ainda assim manténs abertas as asas, imóveis como pedra ao sabor louco do teu voo, sujeitas ao paladar agridoce que tem essa aventura sem fim: a coragem de ser utópico num mundo quadrado, vazio e cinzento.Voas pé ante pé na corda bamba, balanças a vida no trapézio sem rede, enquanto os outros, meros humanos sem cor, se agarram lá em baixo às cadeiras e vivem, como âncoras de um navio, com os pés colados à terra.És então, aos olhos deles, o triste arlequim que vê ouro em farrapos, pouco te importa. Olhas a vida de frente, as penas húmidas dançam rodopios arriscados, sorris então…Sorris olhando de súbito para baixo, com uma respiração aguçada, atinge-te então a vertigem, percebes finalmente que não és “apenas” humano e solta-se um sorriso alado. Pobres vultos quadrados sem cor, agarrados à terra e ao chão como raízes de árvore, com medo de voar…Abrem-se, encantados, os olhos, navios de espelhos. Entendes então que tens coração de artista, asas de poeta, e por trás da máscara, olhar de um pássaro, és circo e boneco de corda cheio de cor, és pirata, és fantoche, és tudo num voo com espinhos, és actor!
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2 comentários
Anónimo 05.06.2012
Para uma grande atriz, boneca, poeta ou seja lá o que for: os mais sinceros Parabéns !!! Com corda bamba ou não, continua a ser trapezista, voadora e solta o que tens no teu coração de artista ... E verás que serás uma grande vencedora! Beijinho
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Nota biográfica:
Inês Marto nasceu em 1995. É licenciada em Estudos Artísticos, Variante de Artes do Espectáculo, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Publica online em nome próprio, desde o ano de 2010, em prosa, verso, crónicas e escrita criativa. Lança em 2017 o primeiro livro, Combustão, consistindo numa junção desses vários anos de escrita. Em 2019 lança o segundo livro, Metamorfose, uma colectânea dos seguintes anos de escrita, organizado segundo o percurso catártico das fases de uma borboleta. Para além da vertente literária, assume-se enquanto activista pelos direitos das pessoas LGBTQIA+ e das pessoas com deficiência, e mantém também uma vertente artística ligada às áreas cénicas, tendo já sido co-autora de peças de teatro, mas revelando especial paixão pela música enquanto letrista. Como principais temas, literariamente, destacam-se sobretudo as relações humanas e as questões existenciais e identitárias.
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Inês Marto nasceu em 1995. É licenciada em Estudos Artísticos, Variante de Artes do Espectáculo, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Publica online em nome próprio, desde o ano de 2010, em prosa, verso, crónicas e escrita criativa. Lança em 2017 o primeiro livro, Combustão, consistindo numa junção desses vários anos de escrita. Em 2019 lança o segundo livro, Metamorfose, uma colectânea dos seguintes anos de escrita, organizado segundo o percurso catártico das fases de uma borboleta. Para além da vertente literária, assume-se enquanto activista pelos direitos das pessoas LGBTQIA+ e das pessoas com deficiência, e mantém também uma vertente artística ligada às áreas cénicas, tendo já sido co-autora de peças de teatro, mas revelando especial paixão pela música enquanto letrista. Como principais temas, literariamente, destacam-se sobretudo as relações humanas e as questões existenciais e identitárias.