8º CNEC - O antídoto da saudade

Agora, logo agora, que depois de tanto tempo na sede do carinho, na ânsia do amor, no desespero descontrolado, na vontade galopante sem rédeas de ter alguém como tu, o destino nos tinha junto, num encontro perfeito, numa poética dança onde nos completávamos mútua e perfeitamente, tinhas de partir… Durante dez dolorosos dias não posso ver-te, não posso sentir-te, não posso ouvir-te nem ser ouvido por ti… O que fazer?
O meu peito contorcia-se, esmagava-se, sufocava-se, se tal não tivesse já acontecido…
Passaria os dias olhando para trás no tempo que corre em câmara lenta…
Mergulharia em fotografias e bilhetinhos nossos…
Continuaria sentindo saudade e tentando abstrair-me de esse algo que só teria fim quando voltasse a ter-te nos meus braços…
Pensava em ti com toda a intensidade, com tanta convicção, com a esperança que esses pensamentos se tornassem átomos e te dessem vida aqui junto de mim…
Tentava telepatia, mesmo não tendo a certeza se é real e se funciona, confortando a minha consciência por estar a fazer todos os possíveis para te ter o mais próximo de mim possível…
Esperaria apático durante dias cinzentos sem fim como quem atravessa todo um oceano de um só fôlego…
Tentaria adormecer na esperança que quando acordasse tivesse a certeza que isto se trata apenas de um pesadelo…
Chorava na esperança que as minhas lágrimas, quando evaporassem, fossem reencarnar junto de ti, levando-te toda a minha saudade, dentro do meu próprio coração…
E por fim olhava pela janela a lua e o sol, esperando que os nossos olhares se cruzassem lá em cima, dando-nos um reflexo desses espelhos das nossas almas…
E se realmente pensasse em ti com toda a intensidade, com toda a convicção, abraçando-te todas as noites com a alma e segredando-te ao ouvido o quanto te amo, fechando os olhos e sentindo a brisa tocando-me o rosto como fazem os teus lábios de cetim, sentindo a luz do sol aquecer-me como faz esse bater ritmado de carinho que tem o teu peito, e se realmente te sentisse junto a mim através da natureza, do tudo, do nada, deste silêncio que é a saudade, se realmente fosses parte deste vazio que me habita por estares longe, e se não precisássemos de palavras nem de toques, nem de olhares, mesmo que fizessem falta estarias sempre aqui. Sobreviveríamos ao tempo, à distância e à saudade, e tratar-se-ia de algo chamado verdadeiro Amor…