8º CNEC - Comprimidos Criativum

Exmo. Director do “Universo & Arredores, Lda.”
Eis que me chegou a informação que vão ser retirados do Mercado da Alma os comprimidos Criativum, produzidos exclusivamente pela sua marca. Escrevo a presente carta para demonstrar o meu desagrado face à situação referida. O senhor com certeza tem conhecimento da dependência que provocam esses comprimidos no organismo dos consumidores, especialmente dos jovens aspirantes a escritores. Tendo atingido resultados tão inesperados no campo da escrita devido à estrutura tetraédrica das moléculas de criatividade presentes nos seus comprimidos, sinto-me dependente deles para continuar a melhorar a minha escrita, como seria de esperar.A minha auto-estima é baixa, portanto não gosto de me gabar, mas o que me têm dito é que até tenho jeito para esta coisa da escrita. Agora imagine que retira os comprimidos: iria diminuir substancialmente a minha criatividade, logo perder-se-ia uma possível futura escritora, escritora essa que as pessoas me parecem gostar. Ora quando a população descobrisse tal feito - sim porque eu não tenciono ficar calada caso o senhor e a sua empresa não demovam a vossa decisão, sou pequena mas sou perigosa! – ficaria indignada, com toda a razão (modéstia à parte). E certamente que uma empresa desse calibre dispensa uma multidão revoltada, não concorda?Tudo isto já me parece ser motivo suficiente para o senhor reconsiderar a sua decisão, mas talvez seja ainda conveniente falar de todas as convulsões e outros efeitos secundários prejudiciais à minha saúde, por falta de criatividade no sangue. Além do mais, preciso de mais doze comprimidos para poder acabar com sucesso o Campeonato Nacional de Escrita Criativa, no qual estou de momento a participar. Devo referir que, devido à possível remoção dos comprimidos do Mercado da Alma, senti-me forçada a poupar o último comprimido do qual dispunha para poder escrever esta mesma carta – sim, não é por acaso que tenho tantos argumentos – o que me fez ficar durante quatro dias sem comprimidos, consequentemente, nos últimos dias, tenho experienciado acções repetitivas, tais como jogar basquete com folhas amarrotadas… e os calos no dedo tiraram férias por ausência da caneta – coisa que não me agrada por esta altura do Campeonato!Espero que o facto de ter gasto nisto o meu último comprimido tenha servido para alguma coisa. Até porque o efeito começa a passar e as palavras já se recusam a sair à rua…
Encarecidamente,
Espelho das Palavras, 24 de Julho de 2011Inês Marto